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quarta-feira, dezembro 25, 2024

Seis países lideram ranking de passaportes mais poderosos do mundo em 2024; Brasil é 17°

Lista elaborada pela consultoria britânica Henley & Partners permite uma série de reflexões sobre a mobilidade humana global na atualidade

A primeira atualização de 2024 do ranking de passaportes mais poderosos do mundo, elaborada pela empresa global de consultoria em cidadania e residência Henley & Partners, trouxe um empate de seis países na primeira posição. Cidadãos da França, Alemanha, Itália, Japão, Singapura e Espanha estão dispensados de visto de turista em 194 destinos, o número mais alto desde que a lista foi criada, há 19 anos.

Nos anos anteriores, os passaportes de Japão e Singapura figuravam de forma isolada na liderança dessa lista. A versão atualizada para janeiro de 2024 pode ser vista neste link. Com sede em Londres, a Henley & Partners utiliza dados exclusivos da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) para elaborar o ranking.

O Brasil aparece em uma posição relativamente alta na tabela da consultoria britânica, na décima sétima posição, com passaporte que dispensa visto para acesso em 173 países, três a mais que no começo de 2023. Em relação a outros países da América Latina, aparece em terceiro lugar, logo atrás de Chile (15°, com 177) e Argentina (16°, com 174).

Posição rankingPaísesLocais dispensados de visto
1Espanha, França, Japão, Singapura, Alemanha e Itália194
2Finlândia, Coreia do Sul e Suécia193
3Áustria, Dinamarca, Irlanda e Países Baixos (Holanda)192
4Bélgica, Luxemburgo, Noruega, Portugal e Reino Unido191
5Grécia, Malta e Suíça190
6Austrália, República Tcheca, Nova Zelândia e Polônia189
7Canadá, Estados Unidos e Hungria188
8Estônia e Lituânia187
9Eslováquia e Eslovênia186
10Islândia185
15Chile177
16Argentina174
17Brasil173
Fonte: Henley & Partners

Já o Afeganistão aparece em último na lista da Henley & Partners, com um passaporte que dá acesso sem necessidade de visto a apenas 28 países. Em seguida estão Síria (29), Iraque (31), Paquistão (34) e Iêmen (35).

A nova versão da lista permite a realização de comparações diversas sobre os passaportes e verificar onde ele permite acesso com ou sem necessidade de visto. O Brasil, por exemplo, precisa de autorização prévia para acessar países como Canadá, China, Índia, México, Arábia Saudita e Estados Unidos. Ao mesmo tempo, é dispensado desse documento para acessar a maior parte dos países da Europa e América Latina.

Reflexões sobre a mobilidade global

Em termos mais práticos, o ranking é um exemplo das oportunidades (se o passaporte é de um país rico) e dos desafios (se for de uma nação considerada pobre), da mobilidade global.

As primeiras posições da lista são ocupadas totalmente por países do chamado Norte Global. O primeiro que foge dessa classificação, os Emirados Árabes Unidos (11°, com acesso a 183 destinos), tem em seu favor o poderio econômico e diplomático do petróleo no cenário global. O primeiro país latino-americano na lista é o Chile, enquanto o mais bem-colocado entre os africanos é o arquipélago das Seychelles (26°, dispensado de visto para 156 localidades).

Christian H. Kaelin, presidente da Henley & Partners e criador do índice, reconhece uma contradição expressada pela lista. Embora a tendência geral nas últimas duas décadas tenha sido no sentido de uma maior liberdade de viagem, a lacuna de mobilidade global entre aqueles que estão no topo e na base da economia é mais ampla do que nunca.

“O número médio de destinos que os viajantes podem conhecer sem visto quase duplicou, passando de 58 em 2006 para 111 em 2024. No entanto, os países mais bem classificados podem agora viajar para mais 166 destinos sem visto do que o Afeganistão, que está no final da classificação, com acesso a apenas 28 países sem visto”, disse ele, em comunicado à imprensa sobre o ranking.

Outra tendência verificada nas listas de passaportes, aliás, é que os países que possuem os documentos com menor abertura mundo afora coincidem com as nacionalidades que estão entre as maiores entre refugiados no mundo, como afegãos, sírios, palestinos e somalis.

“Apartheid na mobilidade humana”

Em 2022, ao divulgar a primeira edição daquele ano da lista, a Henley retomou uma fala do secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre a existência de um “apartheid nas viagens” pelo globo, que ficou mais evidente na pandemia de Covid-19.

A expressão “apartheid” sobre passaportes também foi verbalizada escritora pela italiana Idiaba Scego, filha de pais somalis, durante passagem por São Paulo em 2018. A temática migratória é um dos assusntos principais em suas obras, com destaque para “Adua” e “Minha Casa é Onde Estou”.

“Vivemos um momento de apartheid dos deslocamentos porque quem tem um passaporte forte, como o meu (italiano, europeu) pode se deslocar, viajar. E quem não tem um passaporte assim, não pode. Nós poderíamos fazer com que as pessoas não fizessem migrações forçadas, mas sim viagens circulares regulamentadas. Quem se aproveita desse sistema atual são as máfias”, ressaltou, à epoca.

Também em 2018, durante seminário acompanhado pelo MigraMundo na França, a cientista política francesa Catherine Wihtol de Wenden foi taxativa. Segundo ela, o processo de migrar acabou reduzido a uma questão de passaporte.

“O ser humano migra porque é de sua natureza (…). Mas o que existe hoje são desigualdades no direito de migrar. Migrar passou a ser não uma questão humana, mas uma questão de passaporte. Se você tem um passaporte africano, isso é quase uma sentença de morte”.

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